Dois cemitérios Judaicos recentemente restaurados em Ribeira Grande, ilha de Santo Antão, serão inaugurados numa cerimónia que acontece na terça-feira, 06, sob os auspícios do Governo de Cabo Verde, em Ponta do Sol e Penha de França.

Com forte impacto no turismo, esses locais de sepultura narram a presença judaica no nosso país.

Esses dois cemitérios do século XIX foram “cuidadosamente” restaurados através duma parceria entre o Governo Municipal de Ribeira Grande e a “Cape Verde Jewish Heritage Project” (CVJHP), com financiamento de S.M. Rei Mohammed VI de Marrocos.

Adicionalmente, num gesto que simboliza a importância desses monumentos num país predominantemente Católico, o governo cabo-verdiano declarou esses espaços e outros cemitérios judaicos por todo o país, como parte do “Património Nacional Histórico e Cultural” de Cabo Verde.

Entre as personalidades convidadas, prevê-se a presença do Rabino de Lisboa, Natan Peres, o Presidente da Assembleia Nacional de Cabo Verde, Jorge Santos, a Encarregada de Negócios dos Estado Unidos, Marissa Scott, o Encarregado de Negócios de Israel, Daniel Aschheim, a cantora cabo-verdiana de renome, Gardénia Benrós, e vários descendentes de Judeus de Cabo Verde, cujos antepassados estão sepultados nos dois recém-restaurados cemitérios.

Refere-se que os cemitérios estão rodeados pela beleza natural das montanhas da ilha de Santo Antão, onde se assentou a maioria dos Judeus que migraram do Marrocos durante o século XIX. “A restauração dessas infra-estruturas beneficia de placas de bronze desenhadas e fabricadas na Inglaterra, contam a história dessa migração e servem de sinalização permanentes para educar tanto a população local como os turistas sobre a presença dos Judeus no arquipélago”, anuncia a organização em comunicado.

Ponta do Sol e Penha de França são o segundo e o terceiro de quatro cemitérios a serem renovados e preservados pela Cape Verde Jewish Heritage Project (CVJHP), Inc. e pelas autoridades Cabo-verdianas. Num momento em que se acelera a intolerância religiosa noutras partes do mundo, o governo de Cabo Verde mantém-se firmemente decidido a honrar a herança Judaica sui-géneres das ilhas.

Surgimento de Judeus em Cabo Verde

De acordo com alguns historiadores cabo-verdianos, Judeus Sefarditas do Marrocos e do Gibraltar assentaram-se em Cabo Verde, na altura uma colónia Portuguesa, em meados dos anos 1800, após a abolição da Inquisição em Portugal em 1821, e após um tratado de comércio em 1842 entre Portugal e a Grã-Bretanha. Indivíduos com sobrenomes, tais como Auday, Benros, Brigham (Ohayon), Cohen, Pinto, Levy, e Wahnon imigraram para várias ilhas do arquipélago a partir de Tanger, Tetuão, Mogador (Essaouira) e Rabat, Marrocos à busca de maior estabilidade económica. “A primeira transição de alguns aconteceu através do território britânico vizinho do Gibraltar, onde até obtiveram a cidadania Britânica”.

Segundo os escritos referidos, os judeus prosperaram em Cabo Verde engajando em comércio internacional, “shipping,” agricultura e administração. Sendo a maioria homens, muitos se casaram com mulheres católicas autóctones. Por causa dessa assimilação gradual, não existem hoje em Cabo Verde judeus praticantes. “Não obstante, os imigrantes originais tiveram o cuidado de enterrar os seus mortos de acordo com a lei judaica. As campas, tipicamente Sefarditas, com inscrições em Português e em Hebraico, figuram entre os poucos vestígios da presença desses judeus”.

Recorde-se, que CVJHP é uma organização não lucrativa, criada em 2007, sedeada em Washington, DC, que propõe honrar a memória dos muitos judeus sefarditas que imigraram para Cabo Verde no século XIX, através da restauração e preservação dos seus cemitérios e a documentação da sua herança, até agora, pouca conhecida.

 

Fonte: A Semana